A permuta e a valorização do seu trabalho na fotografia
Juliana Sabbatini discute como lidar com os pedidos de permuta e aprender a valorizar o seu trabalho nesse tipo de situação

Foto: Swaraj Tiwari
Eu não sei você, mas chegam até mim, ainda, muitos pedidos de permuta. E chuto que talvez seja o pedido mais comum para nós fotógrafos.
– “Você fotografa e eu divulgo o seu trabalho”.
– “Você fotografa e eu te pago com os produtos”.
Quando iniciei minha profissão na área fotográfica, me considerava uma menina. Menina que não tinha a dimensão do que é administração de negócios. Que não tinha noção do que seria sobreviver de fotografar. Seja qual área fosse. E, por isso, por diversas vezes eu aceitei muitos trabalhos por permuta.

Foto: Andrew Neel
O problema é quando você amadurece, ou quando você se dá conta de que você quer crescer profissionalmente, ou pior, que tem contas a pagar. O choque da realidade com a ilusão causa certo desconforto e muito trabalho para a reorganização das ideias e principalmente valorização do seu trabalho. Explico:
Ao aceitar diversos trabalhos em troca de divulgação, hoje em dia para cobrar de pessoas que antes faziam comigo por permuta, acaba sendo quase que um insulto fazer a cobrança.
Muitos se tomam e passam a nos rotular como: “ficou metida”, “ta rica agora e não precisa mais”, “mas porque agora não consegue fazer?”. Entre outras séries de absurdos que involuntariamente você vai ouvir.
A questão não é que a pessoa ficou metida, ou que ficou rica e agora não precisa mais. É justamente o contrário. Por fazer permutas é que não conseguimos alcançar o que precisamos para nos fortalecer em nosso trabalho. Mas como, depois de algum tempo, se explica isso a essas pessoas?
Pois, aí está o longo e delicado trabalho de conscientizar a todos de que você apenas está sendo justa com você e com sua fonte de renda. Nada mais. Confesso que este acaba sendo o maior desafio para a valorização do que se faz.
É preciso explicar minuciosamente para cada um o porquê você está trabalhando de outra forma agora. Ou, porque não pode mais. Uns entendem… Já outros…
Por isso, uma das lições que eu aprendi é: trabalhe com a linearidade. Porque mudar no meio do caminho é uma tremenda dor de cabeça. Recuar, voltar atrás, replanejar, ver onde errou, estudar como concertar, e nesse tempo, trabalhando com o público, é de muita responsabilidade.

Foto: Alexander Dummer
Então não vale a pena trabalhar em troca de divulgação, ou produto?
Acho que isso vai de profissional para profissional. Vale ter a experiência. Eu tive a minha e percebi que gostaria de ser reconhecida pela qualidade do meu serviço ao invés de ser a fotógrafa que faz de graça.
Passei a me sentir mal quando pessoas sempre me procuravam apenas porque eu poderia fazer em troca de divulgação. Pensava: poxa, me desloco, gasto meu equipamento, corro riscos por aí só em troca de divulgação?
Além disso, dar créditos ao fotógrafo hoje em dia é praticamente uma obrigação de quem publica a imagem. Principalmente agora que na internet tudo se reposta, se copia. Ou seja, a troca de um trabalho tão cuidadoso por pessoas me divulgarem acabou pesando pra mim.
Costumo dizer que uma coisa é você criar um projeto e convidar pessoas a participar, com você bancando tudo. Afinal, o projeto é seu. Você bolou. Você montou e você definiu a data em que conseguiria arcar com aquilo. Outra coisa é uma pessoa te chamar a fotografar um ensaio particular, por exemplo, em que você precisa se “encaixar” num job cujo você irá tirar do seu bolso. Então pra mim, hoje, não vale a pena realizar trabalhos por permuta. Por simplesmente eu partir para a valorização dos meus serviços pela qualidade dele.

Foto: Denis Malerbi
Como começar então?
Como eu disse acima, uma dica que dou é você convidar modelos, amigos, filhos de amigos para fazer e atualizar seu trabalho. E não ser convidado. Quando você convida é você que sabe dos limites que consegue para a realização de um job. Quando você é convidado a ideia que se passa é que você é procurado por causa disso (por fazer de graça). Afinal, bancar uma sessão de fotos não é nada barato.
E, quanto cobrar?
Aí entra a consciência e o bom senso. Se você tem dimensão do quanto você gasta, do que você oferece, você precisa manter um valor que faça jus a isso. Não existe uma tabela exata! Uns irão cobrar mais. Outros menos. Justamente por isso ser algo muito particular como também é o seu trabalho. Cada estilo tem um modo de trabalhar. Um gasto. Um valor.
Gostaria de abrir aqui também um “PS” que acho muito importante:
Ser convidado por um outro profissional, por exemplo, um maquiador ou um stylist que querem atualizar o material e bolaram uma sessão de fotos. Acho isso super saudável e muito bacana tanto para obter contato, quanto para realizar um trabalho em conjunto com a mesma finalidade para todos – construir um material bacana. Logo, esse tipo de permuta eu sou sempre muito a favor.
Pra finalizar:
Valorize-se. Tenha em mente que se quer trabalhar mesmo com fotografia você, mais do que ninguém, precisa entender o valor dela.
Deixem comentários, sugestões do que gostariam que eu escrevesse.